Caligrafia: porque NÃO!

Como infelizmente esse debate parece não estar vencido resolvi escrever e guardar, assim sempre que a discussão aparecer basta postar novamente.

Caligrafia: porque NÃO!

1) Observe as mãos de uma criança pequena de três ou quatro anos: a extensão de seus dedos, sua coordenação motora fina. Bem diferente das mãos de uma criança de seis ou sete anos não é mesmo? Seu desenvolvimento físico e motor ainda está em processo de amadurecimento. Por isso atividades de pintura e desenho livres, massinha, recorte e colagem, movimentos de pinça, trabalhos com argila, encordoamento e abotoamento são necessários nessa faixa etária.

2) Devemos recordar Piaget (que devem ter estudado em algum momento, não é possível),
quatro estágios cognitivos do desenvolvimento infantil:
– Fase sensório-motora: Nascimento até cerca de 2 anos. …
– Fase pré-operacional: De 2 a 7 anos. …
– Estágio operacional concreto: 7 a 11 anos. …
– Estágio operacional formal: 11 anos ou mais.
Ou seja: na primeira infância o desenvolvimento está diretamente associado a percepção e movimento: por isso o currículo da Educação Infantil deve centrar-se na descoberta, brincadeira e interação e não em algo abstrato como letras e números que as crianças ignoram realmente o significado.

3) A caligrafia não é ensino de leitura e escrita. É TREINO MOTOR. Um treino sem sentido algum, muitas vezes penoso e completamente desnecessário já que não se articula com a compreensão da língua, com um exercício cognitivo de reflexão sobre a escrita. Por isso vemos a produção de crianças COPISTAS que copiam do quadro mas não sabem ler nem escrever, apesar da “letrinha linda”.

4) A caligrafia é um artefato cultural que teve sua função em um determinado tempo histórico: reparem como o traçado “correto” das letras exige que não levantemos o lápis do papel, só cortando o T ou colocando pingos e acentos depois de concluir a escrita. Sabem porque isso? Porque se usavam canetas a pena e a tinta pingava toda vez que se levantava a pena do papel. Então a necessidade de uma escrita continua.

5) Antigamente as pessoas enviavam cartas, todos os documentos eram feitos à mão: certidões de nascimento e casamento; declarações; ofícios e memorandos; contabilidade e notas promissórias. A letra “bonita” era um status social, sinônimo de uma educação ilustrada.

6) Hoje mal escrevemos à mão livre. Quando o fazemos a exigência é de uma letra legível e clara, não cursiva. Quando usamos canetas nos pedem para preencher formulários com letra de imprensa. Quase ninguém mais faz uso de bilhetes: se mandam WhatsApp. Imaginem daqui a 20 anos?!

7) A letra cursiva que tanto atormenta algumas crianças- embora tenham aquelas que gostem do treino motor – é uma exigência escolar que só dura os primeiros anos. Professores do segundo segmento – antigo ginásio – e do ensino Médio não usam e não cobram letra cursiva de seus alunos. Na verdade preferiam que eles tivessem um melhor nível de leitura e interpretação de texto e um texto mais coeso, autoral e bem escrito.

8)resumindo: uma atividade ultrapassada, arcaica, desnecessária, que gasta tempo, cansa e desmotiva muitas crianças, não tem objetivo real no ensino da escrita, não tem função social alguma. E que para piorar, não tem nenhuma orientação legal: nem nas diretrizes nem no BNCC e nenhum respaldo acadêmico: nenhum Professor Doutor especialista em Educação Infantil defende tal prática.

9) E para os defensores dos aspectos “neurológicos” lembro que dezenas de países super desenvolvidos como Japão, China e Coreia não usam letra cursiva e não tem problema neuronal algum.

10) Como atividade de “coordenação motora” sugiro que pesquisem mais atividades de artes e conversem com os profissionais da Educação Física.

A Medicina, a Odonto, a Engenharia e até a manicure evoluíram em suas práticas. Não é possível que a escola continue presa a práticas do século XVIII pelo século XXI a dentro. Já deu. Vamos melhorar!

Andréa Serpa
10/06/2020

O texto não é meu, mas achei relevante compartilhar com vocês.
💜

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